domingo, junho 10, 2007

Dia de chuva


Chá com bolinhos, foi tão reconfortante, eu tinha chorado tanto ao lado dela que fiquei sem saber se ainda estava com aquela cara de choro. As pessoas eram muito gentis comigo e sorriam com tanta suavidade, me lembrava as pinturas. Naquela sala, onde Chopin era o senhor da harmonia, um velhinho lia um romance de Victor Hugo. Recém havia chegado e eu já estava partindo, eles pediram para que ficasse até que o tempo melhorasse, mas ao ver aquele rosto novamente algo começava a desabar, não podia permanecer ali. Fechando a porta, saindo do paraíso que não servia mais para mim, eu olhava a rua. Um carro passava na minha frente naquele instante, deixando o barulho que se despedia aos poucos, resolvi caminhar devagar. Abrindo o guarda chuva eu sentia o vazio que este tempo me dava. Somente em dias assim que eu acredito em fantasmas, desconfio que seja um. Pessoas caladas caminhando com pressa e eu continuava no meu passo leve e despreocupado. Fiquei um pouco envergonhado, não queria chamar atenção, pensei em me desculpar " lamento, mas a chuva não está me incomodando, hoje eu me dei a liberdade de caminhar lentamente", logo percebi que não era necessário. A chuva era o estorvo daqueles caminhantes, a minha perturbação havia passado. O rosto dela voltava, um vento vinha e trazia mais água, meu rosto contorcia-se. As pessoas do bar me olhavam, eles me passavam um calor que acalmava os ânimos, gente comum com suas cachaças e cigarros baratos. As arvores deixavam um monte de folhas no chão, folhas pequeninas que ficavam grudada nos carros, havia algumas flores no chão completamente verde. Chegando na frente de casa, eu me despedia daquele dia, me despedia da poesia e daquele sorriso que ficou no outono.