domingo, novembro 25, 2007

No passinho da formiga, no tamanho do elefante...


Ela levantou-se e foi diretamente na direção do joven rapaz de camisa listrada, lhe ofereceu uma maçã do amor. Antes dele pegar a fruta, ela levou-a a sua boca e deu uma mordida voraz, mastigou-a bem e lhe disse:
- Maçã é um alimento tão bom, essa maçã é tão doce!
O rapaz olhando com tanto desejo, levantou-se da cadeira e pegou a maçã da mão dela. Deu uma mordida com mais ferocidade que ela. Mastigou a maçã e seus olhos não se desviavam dos olhos dela. Ela pegou a maçã da boca dele e jogou-a longe. Ela começou fazer mímica e ele tentava adivinhar, o tema sempre mudava, ela gritava:
-Filmes!
Ele suava e tentava adivinhar com toda energia:
-Duro de matar!
-Uma loira em minha vida!
-Debby&Lóide!
-Copacabana me engana!
Os olhos dela estavam pegando fogo:
-Você errou!
Ele caiu de joelhos:
-E agora o que faço?
-Dê-me um beijo
Ela puxou-o pelo colarinho, levantou-o e deu-lhe um beijo que o fez cair em um buraco! Ele não sabia onde pisar, os seus braços se enroscaram no corpo dela e ele levantou-a e lhe devolveu o beijo. Os dois começaram a correr em volta do salão. Um velho quis participar do espetáculo e quebrou três costelas. Levaram-no ao hospital, depois disso, dentro do hospital, começaram tudo de novo. Não houve sobreviventes.

sábado, novembro 17, 2007

Preparações

E lá estava aquela família reunida em volta da mesa. Havia um presente posto como o centro das atenções. Ele era fantástico! Estava embalado com um laço dourado e um papel vermelho da loja mais chique da cidade. As pessoas olhavam com tanto carinho que resolveram emoldurar a obra de arte. Os visitantes que chegavam consideravam algo feito por um artista plástico. O embrulho saltava para fora da parede e ficava em cima da cadeira do chefe da casa, na sala de jantar. Antigamente havia uma cabeça de Alce no local,porém, agora, pelo desejo de todos o belo embrulho retirou o bicho galhudo do campo de visão de todos. Havia um gurizinho muito curioso e ele morava na casa ao lado, ele morreu atropelado por um caminhão, pois queria saber se tinha super poderes. A família dele não emoldurou o corpo dele, pois não era bonito. Seu corpo foi transformado em alguma obra de arte de rua bizarra normalmente feita por moleques endiabrados. O avô da família que emoldurou o presente vermelho de laço dourado tinha um programa predileto na televisão, mas depois que o presente surgiu todos deixaram ele assistir qualquer coisa, então não teve mais vontade de assistir o seu programa predileto. As crianças da casa sabiam que não podiam tocar no quadro, mas ninguém se importava se elas ficassem passando o dedo e lambendo a moldura.
Houve um momento em que o papel da magnífica obra de arte desbotou, foi passado tinta têmpera e o problema foi resolvido, porém surgiu uma goteira. Todos sabem que tinta têmpera não resiste a água, depois desse acontecimento triste encontraram uma solução. Tinta de tecido! Sim um gênio havia inventado a tinta de tecido. Haveria algum outro gênio para criar a tinta de presente. Entre os esquimós do Alaska havia um mago e ele tinha a solução para o problema do presente do papel vermelho e laço dourado.
Nesta mesma época a matriarca ficou grávida, o pai começou a fumar charutos e os filhos juntavam as cinzas para fazer pinturas rupestres na parede do corredor. A sociedade estava consciente do caos que o presente poderia trazer a arte e resolveu chamar o mago esquimó para utilizar sua tinta para presente. Ele só aceitou ir se esfriassem a cidade na temperatura de menos vinte graus célsius. Estavam na primavera e esta estação tinha um amanhecer bem fresquinho, quem sabe se o governo não colaborasse com aquela cidadezinha de pessoas sorridentes e saudáveis. O governo tinha tantos projetos fantásticos. Eles decidiram aquecer o planeta, desmatar todas as florestas, parar com as correntes marítimas para conseguir o resfriamento daquela região. Isso foi feito com tanto esforço e colaboração de todos que aquele país recebeu um premio da ONU pela união de um povo em torno de uma boa causa.
O mago esquimó chegou na sala e olhou para o presente. Algo precisava ser feito e as televisões estavam ligadas ao acontecimento. O bebê estava nascendo, não havia tempo para chegar ao hospital, a mãe deitou-se na mesa e gritou, gritou muito. O bebê nascera bem, o mago chegou perto da mesa ensanguentada, passou o dedo no sangue, experimentou um pouco e pegou um pincel. Seu povo nunca mais acreditou em sua magia.

quarta-feira, novembro 14, 2007

People Like Us



De agora em diante resolvo por como trilha sonora para o meu blog os sons bizarros de Vicki Bennett. É um projeto chamado People like us; me agradou por demais, acho que tem tudo a ver com "Cabeça vazia ou um vaso de flor". Espero que os leitores, se é que eles existem, gostem.

domingo, novembro 11, 2007

Pássaros ou bestas!(parte 2)


Passarinhos pequenos e grandes, cantando bem cedinho. Seja para marcar território ou reproduzir-se, como foi dito para mim. Uma sujeirinha já vale a pena, um nó também. Sei que existem olhos que me avaliam, há em todo lugar, quanto mais passa o tempo eu percebo que menos tempo eu tenho para acertar. Quanto mais passa o tempo menos tempo eu tenho. Por isso eu acabo por aqui, o tempo está passando!

quinta-feira, novembro 01, 2007

Isso aqui não existe

Um pingo d'água caiu-lhe no rosto, parou e olhou para o céu preocupada com as nuvens, havia ainda quinze minutos de caminhada. Ela pensava: "isto não importa", tentava convencer-se, as palavras repetiam na cabeça "não importa, não importa" e quanto mais repetiam o seu coração disparava. Desabou a chuva, com trovões e relâmpagos, o seu cabelo desmanchava, sua jaqueta jeans branca encharcava. O dia de trabalho não havia começado, as pessoas esperavam por ela e ela não estava bonita. Estava molhada, com frio e atrasada. A sua autoreprovação era gigante, um rosto sério,pronta para cair junto com tudo que havia de pesado. Não existia nenhuma pessoa amigável na volta e se alguém risse, ela iria abrir a boca. As águas continuavam deslizando no seu rosto, seu segundo banho do dia não havia esperado até a noite. Ela continuava em direção ao trabalho, "será que volto?","será que chego lá ,peço para voltar e trocar de roupa?", "Desse jeito ficarei de cama", "porque isso aconteceu comigo?", "é sempre assim desde criança...", a cabeça pesava para frente, um rosto pensativo, um olhar concentrado no seu interior, todos os pensamentos a levavam ao seu fracasso inevitável. "Porque fizeram isso comigo?", começava a reduzir a velocidade do passo, "é...é sempre assim". Chegou no trabalho.
O homem olhou para ela, viu seu estado. "Oi, cuidado para não molhar o carpete.", a moça continuava de cabeça baixa, "Vai para o banheiro se secar, está atrasada.". As outras pessoas trabalhavam em silêncio, ninguém se voltava para ela, estava molhada, fria e feia. Se alguém lhe desse um sorriso, lhe oferecesse um café seria o anjo do dia. Ninguém fez isso, ainda estava muito cedo para isso acontecer, o intervalo ainda não havia chegado e a cena ainda estava marcada nas cabecinhas. Como já havia previsto, começou a espirrar, pensou um pouco e pegou o café que tanto queria. Tomou com gosto e dele retirava toda a força para mandar aquilo tudo para o espaço. Iria demitir-se? Óbvio que não, ela notou a ignorãncia do mundo, o modo que as pessoas reagiam para aqueles que esperam um anjo lhe oferecer café. Ela sabia que ninguém tinha nada a ver com aquilo, cada um no seu papel, entristeceu sozinha, agora se esforçava para desintristecer. Retirou a jaqueta encharcada e agradeceu por aquela sala não estar fria. Nem tudo estava perdido.
Olhava compenetrada para o computador e não estava interessada em comunicar-se com ninguém, não existia anjos por ali, eram pessoas que iriam voltar-se para conversar com ela quando o seu humor estivesse bom, quando sua cabeça não estivesse baixa. Se eles fingissem ser criaturas angelicais seria motivo para desconfiar. Aquilo ali é trabalho, eles conversavam entre eles, mas ela não possuia o mesmo comportamento. Tinha que fazer o que era preciso ser feito e pronto. Ficar conversando só para fazer uma de sociável, não precisava disso, tinha a sua amiga de melhores momentos e sempre conversava com ela pelo msn. "Eu posso sozinha, já existe pessoas que me amam, o resto que se vire com seus problemas e suas vidas".
Um colega de trabalho seu se aproximava, hora do intervalo, ela olhou séria para ele, as palavras do rapaz eram para agradá-la, ele sabia que muitas vezes ela tinha dado risadas com ele por causa de suas palavras, mas hoje parece que aquele poder que ele tinha sobre ela não estava funcionando. Ele era uma pessoa comunicativa e simpática, não era como ela, quieta e desengonçada. Ela já havia falado sobre suas preocupações e medos em relação ao trabaho e a vida com ele. Ele, por sua vez mostrava-se sempre resolvido e de bem com a vida, a propaganda é a arte do negócio. Desistiu, hoje não era o dia, mas iria tentar novamente em outro momento, ela iria se abrir novamente.
"Será que sou louca?", o tempo voou, a chuva cessava, e um chá com bolachas era servido por uma mulher da faxina que havia simpatizado com ela, "quando eu endureço e me decepciono com os outros, as pessoas se aproximam com a intenção de me iludir novamente", "este sobe e desce... é apanhar para receber carinho".