domingo, dezembro 31, 2006

OVNI


Os seres atravessam na minha frente com risos, plásticos e cachaças azedas retiradas de suas axilas. Os dentes caem para fora e isso tudo poderia estar dentro de um romance clássico do século XVIII, isso é divertido, mas não é sobre isso que eu quero falar.
Chegaram as festas, datas tão festivas, o mundo é belo e o meu coração é preenchido de nostalgia, mas não é bem isso que eu quero dizer!
Estou numa viagem de pesquisa para adquirir algo que não sei. Por isso, caminho por esta cidade. O sol é forte, muitas pessoas também são, mas o sol é grande e não é pessoa. A brisa é amiga e os produtos uruguaios são baratos. Não me importa quem anda por esta calçada, mas a calçada em si. Esse lugar tem algo a dizer e eu sou tão surdo! Quem é que escuta uma cidade? Quem é que entende um lugar? Isso não importa
também! O que importa é que não desistirei fácil!

terça-feira, dezembro 12, 2006

O calor me derrubou!


Alguém deixa passar o vento, ele agradece e senta em um banco. Nas esquinas eu vejo os objetos quase dobrando, quase sumindo. Um fim de ano qualquer. As mãos soltas escorrem pelas calças, eu estou muito sóbrio.
O ônibus estava tão vazio, uma imagem que vou guardar, a validade dessa lembrança é curta, em três horas sumiu.

domingo, dezembro 03, 2006

Geração Matusalém


Estava caminhando pela rua procurando um cadáver. Perguntei ao cara do açougue se ele vendia. Ele fez uma careta estranha, pois ali era cidade pequena e nesse tipo de lugar tudo o que um forasteiro pergunta os habitantes estranham, a conversa foi assim:
- Moço, como é seu nome?
- Paulo Nósi, o pessoal me chama de Nósinho.
- Seu Nósi, estou querendo um presunto, digo, cadáver, tu me consegue um?
- Como?
- Um cadáver, alguém que já morreu, tu sabe como é que é, o natal está chegando e...
- Sim... digo, mas aqui não é muito normal isso.
- O natal?
- Não... o lance do morto, o pessoal não se acostumou ainda, e acho que não vão mudar.
- E por causa disso tu não comercializa por aqui?
- Não adianta pendurar um corpo inteirinho no frigorífico se ninguém vai comprar.
- E um boi? Um corderinho? Tem?
- Olha, tá difícil, dá pra ser o de mentirinha? É muito bom também.
- Esquece! Vou comer formigas! Brigado Nósinho, agradeço a hospitalidade, mas quero lhe informar que agora são novos tempos, o pessoal vai começar a procurar isso aqui. Se eu fosse você começava a comercializar presunto.
- O pessoal daqui é tradicionalista, não é como a capital que muda a todo momento seguindo as tendências do mundo, é que nem pedra, não sai do lugar. Não se preocupa não seu moço, que eu estou muito bem vendendo o que eu vendo.
- Se você diz, não vou discordar, mas a maré vai mudar, se vai! Passar bem!
- Já vai tarde moço! Já vai tarde.
A conversa morreu ali e algumas pessoas ouviram do lado de fora, me olhavam como se eu fosse o anticristo, mesmo tendo comentado sobre o natal, sei lá, o interior é o sinônimo da ignorância e essas pessoas demostravam isso com todo o seu potêncial.