sábado, setembro 29, 2007

Mergulhando

Aquelas palavras sendo soltas sem eu ver, já não tinha mais o controle. Algo aconteceu, eu me via caindo para o fundo, o mais escuro possível. Tive sonhos e isso poderia ser bom. Um oceano em meu peito, dando umas nadadas para ver o que acontece. Indo de cabeça, nadando naquela água escura e chegando até o fundo azul tateando-o com as mãos, subindo para continuar vivo e olhando o azul do céu. Segurando o ar o máximo de tempo possível, eu quero superar alguma coisa. Olhando o azul de fora e tocando no que se encontra nas profundezas da piscina. Eu tento ir mais rápido, só que me canso e acabo perdendo o fôlego. Perco o ritmo e acabo parando, pois não consigo dar continuidade. Já tentei nadar com leveza e suavidade, o sol derramava num mergulho infinito, eu consegui fazer o que aqueles narizes não tiveram a chance. Eles estavam farejando histórias para datilografarem em suas linguas e distribuirem em suas manchetes escrotas. A água continua escura, mas há um efeito relaxante, somente quando estou sozinho, em silêncio. Eu divido certos momentos e isso gera dois caminhos. Não vou explicá-los, neste momento apareceu..."por favor entre e tome um chá, não se incomode com alguma coisa que eu disser, eu tenho muitas idéias a seu respeito e acho que você já estava andando por aí antes de eu te conhecer, acho que você já possue um conhecimento prévio sobre a situação, terá informantes, amigos ocultos, forças da natureza ou simplesmente brincadeirinhas de sabotagem?". Um comentário sobre assuntos corriqueiros, " se um dia quando cansarem de mentir...vocês sabem, podem vir!". Já levei o castigo, eu tenho algumas marcas comigo, o oceano cabe dentro de uma piscina, mas continua sendo um oceano, com areia de praia e sol no horizonte. Sozinho, mas se quiser aparecer..."por favor entre, tome um chá..."

segunda-feira, setembro 24, 2007

Enchente


Hoje de manhã, bem cedinho, mandei uma mensagem para a guria e ela disse que estava dentro d'água. Não havia entendido aquilo, pensei que ela estivesse tomando banho, algo do tipo, mas não era isso. Quando cheguei na cidade eu vi aquela água espalhada por todos os lados, enchi a minha boca de palavrões e fui soltando um por vez. A água está chegando na minha casa e a única coisa que posso fazer é olhar. Tá faltando a prancha de isopor!

terça-feira, setembro 18, 2007

Muito mais além daqui!

Quando eu era bem pequeno, mas bem pequeno mesmo, um pouquinho maior que meu dedão. Ficava quase parelho com o Pequeno Polegar. Nesta época, a minha vó contava uma história para dormir. Era sempre a mesma, a "Festa no céu", a tartaruga que se esborrachava no chão. Eu me imaginava naquele lugar, tomando ponche junto dos outros bichos em cima das nuvens, voando nas costas da cegonha e se escondendo no violão de algum dos animais. Um desenho de livro antigo, com aquele cheiro de velho e um abraço num blusão de lã. Eu dormia suave...
Houve uma vez em que eu resolvi contar uma história também, decidi contar a minha história. Na minha história havia um labirinto e lá eu me achava e me perdia. Havia o tal do minotauro. Ele não podia me alcançar. Tudo começava com uma planta que nascia e uma criança que berrava. A aventura era muito séria e precisava de um objetivo muito forte, metafísico, além das riquezas tão comuns em histórias infantis. Eu me perdia em meus pensamentos e nunca terminava a história. Não sei se um dia consegui sair do labirinto, se o minotauro conseguiu me alcançar ou se me esborrachei no chão como a tartaruga.
Um dia, eu e um amigo meu vestimos asas de cartolina e tentamos voar, queríamos chegar naquelas nuvens. Tínhamos cinco anos, o que sabíamos? Eu já corri muitas vezes tentando chegar lá, olhava bem para o alto e fechava os olhos quando me sentia muito eufórico, pensando que talvez fosse esta a mágica que me transportaria para o fantástico, continuava correndo e nunca me decepcionava, faltava só um pouquinho, eu sabia. Nunca duvidei das propagandas do Toddy, sempre fiquei na espera de viajar no mundo de chocolate.
Nos lugares escuros sempre havia uma surpresa, uma pequena caverna na palma das minhas mãos, fazia eu viajar no tempo, conseguia sair do almoço e voltar para o sábado de manhã, em minha cama, naquele sono cansado de dormir. Quando isso não acontecia eu perdia a fila para se servir da maravilhosa comida feita com toda a aspereza das cozinheiras. Um homenzinho dormia nestes cantos escuros, ele sempre estava cansado, tinha sempre uma grande aventura para contar, mas primeiro precisava dormir. O dia tinha sido muito longo, a vida era muito longa e era preciso dormir. Eu dormia junto com ele, para lhe fazer companhia. Nunca me contou suas histórias, mas imagino que tenham sido grandiosas, nunca mais o vi.

domingo, setembro 16, 2007

Take a walk!

Eu já não tenho mais nome, retiraram ele da minha pele quando eu estava dormindo. Agora de noite há um fogo queimando perto dos carros, eu não consigo me identificar com ninguém. Um colchão velho abandonado em um terreno baldio. Faço minha cama e peço para me esquecerem por um tempo. Surge um dia claro e cinza, um cachorro abre um lixo com os dentes, eu olho para as famílias de classe média e percebo que elas têm mais medo do que eu. Um dia irei precisar delas, seja para esmolar, seja para qualquer coisa... Elas terão que colaborar. Continuo caminhando. Chego ao centro: carros, juventude confusa, velhice conformada, dia da feirinha, é tão fácil ler aqueles rostos. A água quer entrar dentro do meu corpo, matar a sede de um dia cinza, necessidades em um dia cinza. Não me sinto bem. O centro está longe, um caminho de terra, muito verde em volta, um homem passa com um boi. Já não há mais nada, aquela estrada continua, um buraco branco com um circulo azul esverdeado na volta divide a estrada, ele está num ângulo de 90 graus ao chão. Muitos pássaros saem de dentro, mas penso comigo "eles estavam dentro do que?", "dentro de um buraco seu idiota!". Meto a cabeça dentro desta coisa incomum no meio da estrada e vejo o lado de fora. Não consigo saber se estou saindo ou entrando. Talvez eu esteja saindo de uma coisa e entrando em outra, depois de muito esforço consigo chegar a essa conclusão. Não sei o que esse buraco significa e não tenho nenhuma explicação ou teoria para isso. Eu olho para ele, e não sei por que, mas me deu vontade de dizer: "eu te respeito, continue existindo e fazendo sua parte, eu prometo que irei viver minha vida". Nada acontece, passo pelo lado dele e continuo caminhando, chego perto de algumas casas abandonadas e vejo alguns caras de óculos escuros atirando em alguém que está com as mãos amarradas. Eu paro e penso naquela coisa no meio da estrada e depois sigo tranquilo. Em uma das casas de madeira, tem uma mulher dando a luz, ela grita bem alto, eu nunca tinha visto isso, mas não quero chegar perto para não incomodar. Há um riacho poluído ali perto, vou dar uma descansada ali, meus olhos pesam, não sei se um dia irei acordar.

sábado, setembro 15, 2007

No ar


E lá estava eu novamente, olhando aquela cena se repetir, um beijo jogado no ar. Solto de seus lábios e flutuando sem rumo, atirado para as moscas ou para mim? Que diferença isso faz. Sei que irei tentar capturá-lo, em vão, nas ruas estreitas, entre os espinhos, no mar do absurdo, contra a correnteza das opiniões, no mundo dos ridículos e finalmente no beco dos otários. Se conseguir tal façanha, pouco tempo irá permanecer comigo, um beijo tão volátil como este que flutua por aí é o ópio dos descuidados e pouco racionais. Conseguindo ou não, a frustração continua sendo o resultado final. Posso estar completamente enganado, e pular feito uma pulga buscando as migalhas de alegria até chegar ao produto final, prometido pelos sábios e conhecido somente por santos.

Letra da música "Nitemare Hippy Girl":

ELA É UMA HIPPIE DE DAR PESADELOS

Ela me arrebatou com decepção
fui sugado pra dentro de seu apartamento
ela tem flores secas, pele em flocos
um colar de miçangas e uma garrafa de gin

ela é uma garota hippy de dar pesadelos
com seus dedos magrelos tocando meu mundo
ela tem uma beleza estranha e trágica
tímida e um pouco mal-humorada

é uma nova era despejada em minha cara
ela é espaçosa e não sobra mais espaçco
ela tem maconha no azulejo do banheiro
me encontro numa virada, ela está mudando meu estilo

ela é uma garota hippy de dar pesadelos
com seus dedos magrelos tocando meu mundo
ela tem uma beleza estranha e trágica
travada e um pouco esnobe


oh, oh, oh, oh, oh, oh

ela é uma atração estranha e brilhante
ela é um arco-íris enforcando a brisa
ela se espalha no cenário
com poesia falsa de pesadelo
ela é um abacate derretido na prateleira
ela é a ciência de si mesma
ela está se transportando a um nível cósmico
e está meditando com o diabo
ela cozinha salada para o café
ela tem tofu do tamanho do texas
ela é testemunha de sua própria glória
ela é uma história sem fim
ela é uma depressão alegre
ela é uma obsessão auto-inflingida
ela tem mil maridos solitários
ela está seduzindo em outra dimensão

segunda-feira, setembro 10, 2007


Bola para frente, dessa vez eu não volto atrás e não vou ter nenhuma recaída.

sábado, setembro 08, 2007

Transfusão

O guru:
O professor leu minha alma, sem frescura. Ele sabe o que eu sinto por ela, ele sabe sobre aquilo que eu não digo. E eu não faço nada, deixo ele se virar, que babaca que eu sou. Ele é meu melhor amigo e eu o ignoro. Ele tem tudo para oferecer e eu flutuo de maneira imbecil. Eu estou muito longe de ser...eu sei, eu vi folhas caírem em cima dele e não fiz nada. Estava machucado e precisava de ajuda. O que estou fazendo aqui? Para que eu o escuto? Não o cumprimento direito e quero sua atenção. Eu não sou obrigado a nada, mas isso não é nada animador, pois eu quero me esforçar mais.
A moça:
Eu vou esperar até explodir e eu sei que vou explodir. Explodir como? Não sei, mas não será de raiva. Mais uma vez, uma despedida suave, uma tarde suave e um sol cruel. Aquele beijo no ar que ela deixou, porque faz isso comigo?Por que eu não quero te largar na despedida? Me conformo com tudo e penso nas criancinhas da Africa. Tento sorrir novamente, minha boca despenca. Tudo pela sua companhia.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Iguana

A minha cabeça estava vazia(grande novidade!), eu precisava lembrar, eu tinha o compromisso, a contagem regressiva para o momento esperado estava sendo feita, não deixava esquecer. Tive que ir ao médico, contei sobre o meu problema e ele me receitou um remédio. Ele olhava para mim, mas não me prometia muita coisa:
- Acho que isso pode te ajudar meu jovem, não tome muito se não dá panca. Não quero saber de cliente meu sequelado.
- Aham, tudo bem então, muito obrigado! Poderia me dizer que panca que dá?
- Curioso né? Pois não vou dizer! E trate de regular na dosagem!
Saindo de lá fui ná farmácia:
- Vocês têm Propivanalol?
- Propivanalol? Deixa eu ver...espera só um momentinho...temos só o genérico.
- E é bom?
- Contém a mesma composição "primas lembratu".
- Esse remédio dá panca né?
A mulher olhou para mim desconfiada:
- Porque tu quer saber?
- O médico que me receitou comentou sobre isso.
- Olha, eu não vou vender remédio pra guri que quer sair fora do ar.
- Eu não quero sair fora do ar, só quero saber que panca é essa que esse remédio dá?
- Escute bem, se tu tomar conforme a indicação não vai te acontecer nada a mais do que precisa acontecer, não se preocupe.
Desisti de buscar alguma informação com a dona da farmácia, fui para casa e tomei um comprimido do remédio. Me deu uma vontade de sentar e relaxar, adormeci.
Quando eu percebi estava acontecendo, eu estava vendo todos na piscina, ela ria e fazia todos rirem, a mais palhaça e alegre criatura que já havia visto na minha vida, ela dançava, soltava piadas sobre todas as pessoas, sempre ativa. Colada em sua mãe, ela se mostrava criança. Eu ria tanto, mas de um jeito muito suave, me sentia muito bem e gostava da presença deste ser. Duas horas depois havia acordado, um sonho tão bom, será que era esse o efeito que tinha que dar? Bem, já estava inspirado para escrever alguma coisa, acho que já dava para fazer uma introdução ao texto prometido. Depois de duas linhas pensei em tomar de novo o remédinho, a receita era de tomar após duas linhas escritas(no mínimo), é eu já havia escrito duas linhas já podia tomar de novo. Sentei relaxei e adormeci. Pá!! Um barulho na cozinha, era ela tentando abrir a lata de leite condensado com os dentes!! Peguei um abridor de lata e a ajudei, gostava muito de doce, ela sorria para mim, fiquei pensando em como eu estava interagindo com ela. Depois da distração, ouvi um barulho de piano, lá estava a criaturinha se divertindo, ela queria me ensinar a tocar mas eu não tinha paciência. Ela disse que eu tinha potêncial, pensei em ler a bula do remédio para ver se elogios era algo comum de acontecer. Sim , era normal, depois disso acabei acordando. Não queria ter acordado, queria continuar ali, rindo, me divertindo, que companhia agradável que era este ser fantástico. Escrevi duas linhas rapidamente e engoli a seco mais um comprimido. Caí no chão, no momento que me levantei a minha sala estava toda modificada, com um belo estilo, ela olhava para mim, estava mais crescida e muito bonita. Ela olhou no fundo dos meus olhos e disse;
- Se lembra de mim?
- Claro, te vi nas outras duas vezes, você era ativa, dançava bastante, sempre gostou muito de doce. Tu é muito simpática com todo mundo, toca muito bem piano, claro que me lembro de você! Você é uma pessoa muito legal.
- Tá faltando coisa aí, você não está bem lembrado de mim.
- E o que falta lembrar?
Abri os olhos justo na hora em que iria saber o que faltava lembrar, estava tão curioso que tomei dois comprimidos sem antes escrever uma linha sequer. Dessa vez eu não apaguei, mas a realidade se distorcia, eu via mil Ivanas na minha frente de todas as idades, correndo, dançando, comendo, tocando piano, vendo tv, brincando com os cachorros, conversando com os amigos, brincando com sua irmã, colada em sua mãe, falando bobagem com seu pai, falando gracinhas com os familiares, chorando nos momentos tristes,morrendo de medo nos filmes de terror e depois indo dormir com sua irmã, sim, ela era minha prima. Eu estava lembrando dela, ela era minha prima! Mas não sabia dizer o que faltava, havia acontecido tanta coisa. Eu estava chorando, eu havia me lembrado de muitos fatos, mas não sabia por no papel. O que faltava lembrar? Eu já não sabia mais. O telefone tocou, o médico estava na linha:
- Andou exagerando né?
- Pois é... o que eu faço?
- Não faz nada ué? Agora você para, a tua cabeça deve estar confusa.
Resolvi parar, ele me disse que é comum as pessoas criarem dependências emocionais muito fortes, hoje estou participando de um grupo anônimo, mas sou considerado um caso suave comparado a outros. Hoje em dia consigo aceitar uma dosagem regulada trimestral, mas sou uma pessoa feliz e adoro cada vez mais(de maneira saudável), minha prima querida!

Se esse texto lembrar qualquer outra coisa, pode ter certeza que tem a ver, estou aberto a todas influências!