quinta-feira, novembro 01, 2007

Isso aqui não existe

Um pingo d'água caiu-lhe no rosto, parou e olhou para o céu preocupada com as nuvens, havia ainda quinze minutos de caminhada. Ela pensava: "isto não importa", tentava convencer-se, as palavras repetiam na cabeça "não importa, não importa" e quanto mais repetiam o seu coração disparava. Desabou a chuva, com trovões e relâmpagos, o seu cabelo desmanchava, sua jaqueta jeans branca encharcava. O dia de trabalho não havia começado, as pessoas esperavam por ela e ela não estava bonita. Estava molhada, com frio e atrasada. A sua autoreprovação era gigante, um rosto sério,pronta para cair junto com tudo que havia de pesado. Não existia nenhuma pessoa amigável na volta e se alguém risse, ela iria abrir a boca. As águas continuavam deslizando no seu rosto, seu segundo banho do dia não havia esperado até a noite. Ela continuava em direção ao trabalho, "será que volto?","será que chego lá ,peço para voltar e trocar de roupa?", "Desse jeito ficarei de cama", "porque isso aconteceu comigo?", "é sempre assim desde criança...", a cabeça pesava para frente, um rosto pensativo, um olhar concentrado no seu interior, todos os pensamentos a levavam ao seu fracasso inevitável. "Porque fizeram isso comigo?", começava a reduzir a velocidade do passo, "é...é sempre assim". Chegou no trabalho.
O homem olhou para ela, viu seu estado. "Oi, cuidado para não molhar o carpete.", a moça continuava de cabeça baixa, "Vai para o banheiro se secar, está atrasada.". As outras pessoas trabalhavam em silêncio, ninguém se voltava para ela, estava molhada, fria e feia. Se alguém lhe desse um sorriso, lhe oferecesse um café seria o anjo do dia. Ninguém fez isso, ainda estava muito cedo para isso acontecer, o intervalo ainda não havia chegado e a cena ainda estava marcada nas cabecinhas. Como já havia previsto, começou a espirrar, pensou um pouco e pegou o café que tanto queria. Tomou com gosto e dele retirava toda a força para mandar aquilo tudo para o espaço. Iria demitir-se? Óbvio que não, ela notou a ignorãncia do mundo, o modo que as pessoas reagiam para aqueles que esperam um anjo lhe oferecer café. Ela sabia que ninguém tinha nada a ver com aquilo, cada um no seu papel, entristeceu sozinha, agora se esforçava para desintristecer. Retirou a jaqueta encharcada e agradeceu por aquela sala não estar fria. Nem tudo estava perdido.
Olhava compenetrada para o computador e não estava interessada em comunicar-se com ninguém, não existia anjos por ali, eram pessoas que iriam voltar-se para conversar com ela quando o seu humor estivesse bom, quando sua cabeça não estivesse baixa. Se eles fingissem ser criaturas angelicais seria motivo para desconfiar. Aquilo ali é trabalho, eles conversavam entre eles, mas ela não possuia o mesmo comportamento. Tinha que fazer o que era preciso ser feito e pronto. Ficar conversando só para fazer uma de sociável, não precisava disso, tinha a sua amiga de melhores momentos e sempre conversava com ela pelo msn. "Eu posso sozinha, já existe pessoas que me amam, o resto que se vire com seus problemas e suas vidas".
Um colega de trabalho seu se aproximava, hora do intervalo, ela olhou séria para ele, as palavras do rapaz eram para agradá-la, ele sabia que muitas vezes ela tinha dado risadas com ele por causa de suas palavras, mas hoje parece que aquele poder que ele tinha sobre ela não estava funcionando. Ele era uma pessoa comunicativa e simpática, não era como ela, quieta e desengonçada. Ela já havia falado sobre suas preocupações e medos em relação ao trabaho e a vida com ele. Ele, por sua vez mostrava-se sempre resolvido e de bem com a vida, a propaganda é a arte do negócio. Desistiu, hoje não era o dia, mas iria tentar novamente em outro momento, ela iria se abrir novamente.
"Será que sou louca?", o tempo voou, a chuva cessava, e um chá com bolachas era servido por uma mulher da faxina que havia simpatizado com ela, "quando eu endureço e me decepciono com os outros, as pessoas se aproximam com a intenção de me iludir novamente", "este sobe e desce... é apanhar para receber carinho".

2 comentários:


  1. Muito bom...
    Eu sou amulher do trabalho...só que não chove, faz calor ¬¬

    Sim as pessoas tendem a dar-te esperança quando vc está decepcionado com elas para então puxar o seu tapete novamente.

    Mas...nem todos devem seguir estas regras...há quem não tenha tapetes de boas-vindas na porta de casa.

    Que bom q está atualizando de novo!!=D

    Bjs

    ResponderExcluir

  2. Dear, não se agradece a alguém por ela gostar de um texto rsrsrs.

    Ah sim...boma foto nao estava nos planos. E, a principio nao quis dizer nada com ela. So postei pq to tentando linkar ela pra por como foto do perfil...mas não estou tendo sucesso heuheue

    Como q vc pôs foto nos seu perfil?

    Bjs

    ResponderExcluir