sexta-feira, outubro 03, 2008

Um peso, duas medidas.


Foi isso que vi em seus olhos, lá estava ela, medindo conforme o que lhe convinha. Se fosse outro, talvez passasse em branco, se fosse eu talvez passasse em cinza, mas era ele. E a cor da culpa, se é que isso tem cor, estava a ser pintada no rapaz. Amigo leitor, se você pensa que essa garota estava se sentindo mal por isso ou que havia alguma raiva você se engana, esta situação lhe deixava excitada. A encenação e o drama deixam as pessoas eufóricas, entre o riso e o desabafo havia uma alegria por compartilhar de situações dramáticas. Por causa dessa alegria que todos buscam, que a fofoca se torna algo tão atraente. Mas o que havia acontecido? Nem eu sei. Eu sei que os motivos dela estavam além dos argumentos que sustentava contra ele. O seu punhal ia o seguindo pelas sombras. No momento em que ele mostrasse um sorriso para primeira flor que se abrisse, "pá" e o punhal seria fincado em suas costas. Um punhal de veneno fatal. Em dois minutos e nada mais o corpo cairia num susto e ela se manteria de pé num sorriso. Os planos malignos sempre tem uma dose de açucar em demasia. Eis que está lá por trás dela, um ser gigante com o tamanho de um T.Rex, ele pega ela com as pontas dos dedos e põe na balança junto com todos os seus porquês, ela afunda, no outro lado este ser enorme põe o corpo caído, e todos os contras da ação pensada. A balança começa a subir e descer, a garota fica em descontrole " eu não fiz nada, só foi um pensamento", no outro lado da balança o rapaz ressuscita e fica desesperado " eu não tenho culpa, me tire daqui!". Havia uma espada na outra mão do ser gigantesco, essa arma é levada na direção dos dois e num flash tudo se apaga. Eles vão mergulhando em todos os argumentos e defesas de sí mesmo, estão num mar de loucura e esquecem da sabedoria do silêncio. Acordando em um sonho, eles vêem um Bobo de alguma corte num gramado verde. Dizendo-lhes "não existe, asnos de duas pernas, justiça alguma em terreno humano. Forças inconcebíveis riem de vocês, o justo e o injusto está na cabeça fraca dos seres aleijados, que não possuem pernas fantásticas. A justiça é ilusão". E como sempre este ser de rosto debochado some.
Lendo Otelo de Shakespeare, vi que há um ajustamento das coisas, mas não vejo uma Justiça partidária de alguém ou alguma religião, ideologia, etc, completamente neutra. E ser neutro em condições humanas é uma coisa utópica, isso faz com que essa Justiça não seja vista ou concebida por nós. Uma ação "sobre" e não "entre" nossas capacidades de percepção e interação. Somos duais, a Justiça não é dual. Mas observe bem amigo leitor, estes saberes podem ser usados como argumentos manipuladores. Carta da Justiça, arcano 8. :)

2 comentários:

  1. Ser humano é ser parcial. Ninguém está em cima do muro, mas alguns fingem estar.

    Adorei o nome do seu blog.

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  2. vc é realmente incrivel

    parabens por ser essa pessoa iluminada e com esse talento incrivel para com as palavras...

    o ser humano nasce com um defeito de fabrica, mas durante a vida ele pode tentar consertar....

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