quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Meu olho, meu guia. (parte3)

A donzela:
Sou a única filha, morava em uma casa de verão e ela era toda branca. Aprendi a tocar piano aos cinco anos e a minha família era muito bem vista na sociedade. Eu tive a melhor educação que uma criança poderia ter e não saia de casa sem luvas de seda. Tive tudo o que quis, nunca me faltou nada. Sempre fui uma ótima leitora e adorava filmes de western, o meu desejo era ter um romance como o dos livros com um homem do tipo Clint Eastwood. A minha mãe dizia que era uma combinação um pouco difícil de se achar, mas que ela iria fazer de tudo para encontrar um rapaz que fosse corresponder aos desejos de sua querida filha. Passeando pela capital, pude avistar o tipo que encontrava, ele segurava uma placa escrito "promoção" em frente a uma loja de souvenirs. Fui lá e perguntei se ele não estava interessado de viver um romance, ele disse que sim, mas que primeiro deveria terminar de ajudar o seu avô. Eu o esperei ali, rezando para que ele voltasse vivo, esforcei-me para não chorar, em alguns momentos pensei que ele estava a se despedir de uma outra mulher por qual havia prometido o seu amor, mas que agora iria vivê-lo com alguém que realmente merecia ou talvez propondo um triângulo amoroso. Tudo é possível na cabeça de quem ama. Ele voltou vestido como um piloto de avião, que emoção era a minha em descobrir que o meu amado era piloto de avião. Ele olhava para mim com aquele rosto de despedida e minha mãe buzinava no carro, "Depressa querida filha, amorzinho da mãe, o sinal está aberto", o meu coração batia forte! Ele olhou para mim e disse sem tirar o cigarro da boca:
-Hey sweet honey love, espere por que meu amor será seu, ficará morando com meu avô até que eu volte, quero que se guarde para mim. Se eu souber que um homem se aproximou de você, será o fim dele e quando uma mulher se guarda para mim é melhor para ela que ela cumpra com isso.
Ele saiu correndo pela rua e assim me deixou ali com o seu avô, um velhinho simpático, aquele tipo de velhinho que parece que foi velho a vida inteira ou que nasceu para ser velhinho e servir chá. Me despedi da minha mãe, escrevi uma carta para meu pai e cancelei todas as aulas que tinha que fazer. Virei uma mulher do lar e passava o meu tempo ajudando o vovô na loja de souvenirs. Depois dos acontecimentos que noticiavam no jornal que uma cidade estava sofrendo uma crise, coisas que eu não entendi, a lojinha de souvenirs virou uma sapataria, pois se tornou mais útil assim. Eu continuava a ajudar o vovozinho no trabalho, ele sempre sorria, o seu radinho sempre tocava uma música antiga da bohemia dos anos trinta. Com o passar do tempo não havia mais cliente, fui comprar carne e não havia mais vendedor, não sabia o que estava acontecendo. Peguei um carro aberto e fui para o interior, a capital estava vazia, eu precisava fazer isso, mesmo sabendo que deveria ficar junto do avô de meu amado. Ao chegar na casa branca de verão, minha mãe pediu para que eu não voltasse para a capital, ela achava uma grande loucura eu esperar por meu amado depois de todos os acontecimentos, mas eu não podia fazer isso. Segui os mandamentos da literatura clássica, voltei para a capital e esperei o meu amado.
Aqueles dias eram monótonos, por isso eu me refugiava nos meus sonhos e lá ficava, o vovô era o rei, o cachorro o bobo da corte e um homem que vestia preto e usava bigodes era um camponês qualquer. Ficavamos passeando por nosso reino, um mago havia feito todas as pessoas sumirem e somente com a volta do meu amor, o príncipe, o mundo ficaria a salvo das guerras civis e dos Feiticeiros malvados. Dentro do mundo que havia criado eu me sentia feliz, eu imaginava alguém a escrever isso, a minha vida, o meu romance, como eu queria isso! Os meus pensamentos só desviaram disso quando o camponês veio com uma fita e mostrou a coisa mais hipnotizante do mundo, a lambada. Meu corpo começou a se mexer e a minha mente ficou perturbada, o que estava acontecendo? O rei se dispos a dançar comigo, eu havia descoberto algo mais atraente que os livros. Aquela dança me trazia uma paz tão grande que tudo parecia estar perfeito. Estava tão envolvida naquilo que não consegui dizer muita coisa quando meu amado apareceu. Algo interrompeu a música acho que foi um tiro, o camponês estava no chão.

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