quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Meu olho, meu guia.(parte 2)

O Bandido:
Depois do holocausto, meu tio caolho me abandonou e disse para cuidar muito bem das vistas. Ele era fissurado por olhos, depois que havia perdido o seu olho direito ele cuidava do que lhe havia sobrado com muito zêlo. A vida dele sempre foi aquele olho e ele nunca me dava atenção, aos nove anos, decidi então rir de sua desgraça. A partir daquela idade a minha vida se resumiu a rir da desgraça dos outros, fossem elas pequenas ou grandes e por causa disso começaram a me chamar de El hombre que tienes la risada infernal. Para estar a altura do nome que haviam me dado, comecei a vestir preto. A imagem é sempre importante para dar impacto e intimidação à vítima. Um bigode bem arrumado ajudava no conjunto.
Com a partida do meu tio caolho, fiquei perambulando por esta capital vazia, ficava subindo e descendo nos elevadores dos prédios, lia as revistas das livrarias e me alimentava do que havia no supermercado. Não precisava gastar dinheiro algum, não havia viva alma para cobrar, porém, um dia fui no sapateiro procurar graxa para o meu sapato preto, e quando estava saindo da loja, um homem idoso surge do interior da sapataria cobrando pela graxa que eu estava a levar. O que eu fiz? Ri da cara dele é claro! Estava precisando disso, é difícil viver em uma cidade vazia, principalmente quando se possui a fama de rir de todos. Nesse caso eu ficava rindo da minha desgraça mesmo, só para não perder o hábito. Para a minha alegria, o vovô tinha um cachorro e uma protegida que me ignorou completamente, acho que o pôster do Clint Eastwood no quarto dela tinha algo a ver com isso. Os dias eram tão monótonos que a minha risada não causava efeito algum naquelas pessoas. Ficávamos subindo e descendo pelos elevadores dos prédios, lendo revistas nas livrarias e se alimentando no supermercado. O passatempo era o radinho do velhinho e seu cachorro rídiculo, que havia roubado a cena. Nenhuma risada de deboche superava aquele ser peludo de língua de fora.
Cero dia, para quebrar a rotina, fui passear em uma igreja e no toca fitas do chevete do padre, eu encontrei uma fita de lambada que tocava somente uma música "Chorando se foi...". Isso era muito bom, uma bela maneira de se distrair nas tardes vazias. Quando voltei, pus a fita no radinho do velhote e mandei ver. Eu dizia para eles, "Dancem enquanto podem, pois um dia serão somente ossos e mais ossos, todos juntos na panela". Os olhos daquela moça começaram a brilhar e seu livro de romances foi guardado no bolso. Os dois começaram a dançar e o cachorro não recebia mais atenção, como eu estava feliz!

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