quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Meu olho, meu guia.

O Mocinho:
Cheguei naquela velha cidade com a esperança de ver a minha amada, meu avô e meu cachorro. A capital estava muito quieta e algo não estava me cheirando bem, era como se eu soubesse o que estava prestes a acontecer. Pelas ruas desertas eu caminhava e em certo instante eu percebi que os garis não estavam mais trabalhando, isso deveria haver anos, que diferença a ausência deles fazia! As calçadas estavam cheias de jornais, sacolas e papéis que eram levados pelo vento. Eu desviava de todos eles, procurando chegar o mais rápido possível em minha casa. Ao dobrar a primeira esquina eu encontro o meu avô, ele estava a dançar lambada com minha amada e um homem de bigode e vestes pretas segurava o rádio que tocava a música " Chorando se foi...". Eu esperava ver algo parecido, sim eu estava certo, mas ao invés de lambada eu pensei que iria encontrá-los dançando tango. Fiquei indignado, pois lambada era a dança proibida e de imediato mostrei a minha opinião sobre a cena que se apresentava a minha frente:
- O que está acontecendo aqui!?
O meu avô olhou tranquilamente para mim e sem parar de dançar deu um sorriso e falou:
- Que bom que chegaste de viagem, tu notastes que a cidade está diferente? Tu ficastes muito tempo fora do país e agora as pessoas que ainda estão vivas moram no campo, poucas pessoas como nós se arriscam a viver em grandes capitais como esta. Acredito que sejamos as únicas.
A minha amada olhou para mim sorrindo e disse:
- Eu te amo tanto quanto uma manhã de sábado ensolarada. A lambada é a dança do sacolejo, agora eu só quero sacolejar e não quero que isso estrague o nosso amor tão lindo que é digno de virar um clássico da literatura universal.
O meu chão sumia e San Juan, meu cachorro, chegava mais perto, latindo como um desesperado. A música começava a me pertubar "Chorando se foi..." e o homem de vestes pretas ficava rindo da situação. Dei-lhe um tiro! Pronto, a música havia acabado e ninguém mais dançava.

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