segunda-feira, agosto 13, 2007

Corra e não olhe para trás!

O tórax estava todo aberto, aconteceu no domingo de noite, por onde eu andava havia um rastro do meu sangue, agora qualquer coisa podia me derrubar, um pensamento era o suficiente, uma lembrança amarga estava ansiosa para desfrutar-se da situação. Recebia lambidas desesperadas, havia a esperança de curar a ferida. Um rombo no peito não vai ser curado com lambidas, eu sabia que era em vão, mas deixei que continuasse, sei que devo valorizar aqueles que querem cuidar de mim. Na segunda, eu estava completamente debilitado, mas mesmo assim eu insisti em ir embora, peguei o ônibus e me afundei no banco. Ninguém percebeu nada, eu sorria e "dançava ao rítimo da música". Evitei de olhar a ferida, estava muito feia, não quis toca-la também. Sabia que se agisse assim tudo iria ser resolvido. Na terça feira, o plano de "evite olhar" estava dando certo, até que qualquer coisa, não me lembro bem o que, aconteceu. Havia um buraco na cama e lá eu ficava, não aguentei e fiquei observando o estrago, dava umas cutucadas para ver se poderia doer mais, realmente a dor era infinitamente maior. Continuei dançando e sorrindo, o plano empoeirado continuou cheio de pó e os livros estavam a me esperar, mas já não gritavam mais o meu nome. Quinta feira aconteceu e a previsão de melhora superficial estava surgindo, não havia mais nozes, castanha do pará, amendoas, como eu queria um banho frio! Porém temia cair de vez e não levantar nunca mais. Treinei a pronúncia, cancelei o compromisso e tentei cumprir outros que surgiam na velocidade da luz. Rastejando no frio eu fui cumprindo os deveres e a cada minuto de distração eu olhava para ver se já havia cicatrizado, o rombo não diminuia, tocava de leve e as vezes com força para ver se eu me acostumava com a dor. A ansiedade continuava ali, agora ela gargalhava, dava conselhos podres e me fazia imaginar tudo em completo descontrole. Atirei- me em uma das camas de algum dos lugares em que fico, antes tive que ter uma conversa profunda e dolorosa, já esperava por isso, mas não queria ouvir ninguém, só queria esquecer. Novamente o sábado, dessa vez eu havia sentido bem forte em mim, eu nunca quis o sol tão intensamente na minha vida como naquele dia, no fim da tarde, e basicamente foi esse sol(acho que o filme "Blade Runner" também ajudou) que foi cicatrizando lentamente aquilo que eu já estava a me acostumar. Domingo tranquilo e nostálgico, revendo e seguindo adiante, eu perguntava para mim: Cade? Aonde está aquela ferida? Estou rindo de verdade! Para terminar o dia, um filme de terror e teorias para se resolver problemas impossíveis de serem resolvidos.

Um comentário: