segunda-feira, setembro 03, 2007

Iguana

A minha cabeça estava vazia(grande novidade!), eu precisava lembrar, eu tinha o compromisso, a contagem regressiva para o momento esperado estava sendo feita, não deixava esquecer. Tive que ir ao médico, contei sobre o meu problema e ele me receitou um remédio. Ele olhava para mim, mas não me prometia muita coisa:
- Acho que isso pode te ajudar meu jovem, não tome muito se não dá panca. Não quero saber de cliente meu sequelado.
- Aham, tudo bem então, muito obrigado! Poderia me dizer que panca que dá?
- Curioso né? Pois não vou dizer! E trate de regular na dosagem!
Saindo de lá fui ná farmácia:
- Vocês têm Propivanalol?
- Propivanalol? Deixa eu ver...espera só um momentinho...temos só o genérico.
- E é bom?
- Contém a mesma composição "primas lembratu".
- Esse remédio dá panca né?
A mulher olhou para mim desconfiada:
- Porque tu quer saber?
- O médico que me receitou comentou sobre isso.
- Olha, eu não vou vender remédio pra guri que quer sair fora do ar.
- Eu não quero sair fora do ar, só quero saber que panca é essa que esse remédio dá?
- Escute bem, se tu tomar conforme a indicação não vai te acontecer nada a mais do que precisa acontecer, não se preocupe.
Desisti de buscar alguma informação com a dona da farmácia, fui para casa e tomei um comprimido do remédio. Me deu uma vontade de sentar e relaxar, adormeci.
Quando eu percebi estava acontecendo, eu estava vendo todos na piscina, ela ria e fazia todos rirem, a mais palhaça e alegre criatura que já havia visto na minha vida, ela dançava, soltava piadas sobre todas as pessoas, sempre ativa. Colada em sua mãe, ela se mostrava criança. Eu ria tanto, mas de um jeito muito suave, me sentia muito bem e gostava da presença deste ser. Duas horas depois havia acordado, um sonho tão bom, será que era esse o efeito que tinha que dar? Bem, já estava inspirado para escrever alguma coisa, acho que já dava para fazer uma introdução ao texto prometido. Depois de duas linhas pensei em tomar de novo o remédinho, a receita era de tomar após duas linhas escritas(no mínimo), é eu já havia escrito duas linhas já podia tomar de novo. Sentei relaxei e adormeci. Pá!! Um barulho na cozinha, era ela tentando abrir a lata de leite condensado com os dentes!! Peguei um abridor de lata e a ajudei, gostava muito de doce, ela sorria para mim, fiquei pensando em como eu estava interagindo com ela. Depois da distração, ouvi um barulho de piano, lá estava a criaturinha se divertindo, ela queria me ensinar a tocar mas eu não tinha paciência. Ela disse que eu tinha potêncial, pensei em ler a bula do remédio para ver se elogios era algo comum de acontecer. Sim , era normal, depois disso acabei acordando. Não queria ter acordado, queria continuar ali, rindo, me divertindo, que companhia agradável que era este ser fantástico. Escrevi duas linhas rapidamente e engoli a seco mais um comprimido. Caí no chão, no momento que me levantei a minha sala estava toda modificada, com um belo estilo, ela olhava para mim, estava mais crescida e muito bonita. Ela olhou no fundo dos meus olhos e disse;
- Se lembra de mim?
- Claro, te vi nas outras duas vezes, você era ativa, dançava bastante, sempre gostou muito de doce. Tu é muito simpática com todo mundo, toca muito bem piano, claro que me lembro de você! Você é uma pessoa muito legal.
- Tá faltando coisa aí, você não está bem lembrado de mim.
- E o que falta lembrar?
Abri os olhos justo na hora em que iria saber o que faltava lembrar, estava tão curioso que tomei dois comprimidos sem antes escrever uma linha sequer. Dessa vez eu não apaguei, mas a realidade se distorcia, eu via mil Ivanas na minha frente de todas as idades, correndo, dançando, comendo, tocando piano, vendo tv, brincando com os cachorros, conversando com os amigos, brincando com sua irmã, colada em sua mãe, falando bobagem com seu pai, falando gracinhas com os familiares, chorando nos momentos tristes,morrendo de medo nos filmes de terror e depois indo dormir com sua irmã, sim, ela era minha prima. Eu estava lembrando dela, ela era minha prima! Mas não sabia dizer o que faltava, havia acontecido tanta coisa. Eu estava chorando, eu havia me lembrado de muitos fatos, mas não sabia por no papel. O que faltava lembrar? Eu já não sabia mais. O telefone tocou, o médico estava na linha:
- Andou exagerando né?
- Pois é... o que eu faço?
- Não faz nada ué? Agora você para, a tua cabeça deve estar confusa.
Resolvi parar, ele me disse que é comum as pessoas criarem dependências emocionais muito fortes, hoje estou participando de um grupo anônimo, mas sou considerado um caso suave comparado a outros. Hoje em dia consigo aceitar uma dosagem regulada trimestral, mas sou uma pessoa feliz e adoro cada vez mais(de maneira saudável), minha prima querida!

Se esse texto lembrar qualquer outra coisa, pode ter certeza que tem a ver, estou aberto a todas influências!

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