terça-feira, setembro 18, 2007

Muito mais além daqui!

Quando eu era bem pequeno, mas bem pequeno mesmo, um pouquinho maior que meu dedão. Ficava quase parelho com o Pequeno Polegar. Nesta época, a minha vó contava uma história para dormir. Era sempre a mesma, a "Festa no céu", a tartaruga que se esborrachava no chão. Eu me imaginava naquele lugar, tomando ponche junto dos outros bichos em cima das nuvens, voando nas costas da cegonha e se escondendo no violão de algum dos animais. Um desenho de livro antigo, com aquele cheiro de velho e um abraço num blusão de lã. Eu dormia suave...
Houve uma vez em que eu resolvi contar uma história também, decidi contar a minha história. Na minha história havia um labirinto e lá eu me achava e me perdia. Havia o tal do minotauro. Ele não podia me alcançar. Tudo começava com uma planta que nascia e uma criança que berrava. A aventura era muito séria e precisava de um objetivo muito forte, metafísico, além das riquezas tão comuns em histórias infantis. Eu me perdia em meus pensamentos e nunca terminava a história. Não sei se um dia consegui sair do labirinto, se o minotauro conseguiu me alcançar ou se me esborrachei no chão como a tartaruga.
Um dia, eu e um amigo meu vestimos asas de cartolina e tentamos voar, queríamos chegar naquelas nuvens. Tínhamos cinco anos, o que sabíamos? Eu já corri muitas vezes tentando chegar lá, olhava bem para o alto e fechava os olhos quando me sentia muito eufórico, pensando que talvez fosse esta a mágica que me transportaria para o fantástico, continuava correndo e nunca me decepcionava, faltava só um pouquinho, eu sabia. Nunca duvidei das propagandas do Toddy, sempre fiquei na espera de viajar no mundo de chocolate.
Nos lugares escuros sempre havia uma surpresa, uma pequena caverna na palma das minhas mãos, fazia eu viajar no tempo, conseguia sair do almoço e voltar para o sábado de manhã, em minha cama, naquele sono cansado de dormir. Quando isso não acontecia eu perdia a fila para se servir da maravilhosa comida feita com toda a aspereza das cozinheiras. Um homenzinho dormia nestes cantos escuros, ele sempre estava cansado, tinha sempre uma grande aventura para contar, mas primeiro precisava dormir. O dia tinha sido muito longo, a vida era muito longa e era preciso dormir. Eu dormia junto com ele, para lhe fazer companhia. Nunca me contou suas histórias, mas imagino que tenham sido grandiosas, nunca mais o vi.

Um comentário:

  1. Basta fechar os olhos para se esborrachar como a tartaruga. Basta fechar para montar no minotaura. Pq vc não tenta isso agora? Nossa imaginação não é nada mais além do reflexo do nosso mundo real, o mundo de dentro.

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